"Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine."
(I Coríntios 13.1)


sábado, 13 de fevereiro de 2010

Um conto de amor de uma amante sem um amor

Um homem e uma mulher. Pensamentos e vidas completamente distintas. Ele sempre cercado de amigos e oportunidades, nenhuma pretensão além de diversão sem compromisso. Ela sempre fechada no seu mundo, sonhadora e romântica, que mesmo sem assumir, vive à espera do prínicipe que a fará sentir-se única e insubstituível.
De repente, quando menos se espera, por algum motivo, com ou sem explicação, vão parar no mesmo lugar. A aproximação é questão de tempo. O primeiro olhar talvez não tenha levantado suspeita ou, quem sabe, seja ele o culpado de tudo. Algumas poucas palavras trocadas, sorrisos sem graça e rostos com um rubor que revela em silêncio o que a voz não pronuncia. Encontros e desencontros. Momentos em que a falta de atitude, frustra a esperança. A saudade que aparece minutos depois da despedida, contradizendo a razão, convencendo de que nem tudo está sob o nosso controle.
Um dia ou uma noite, quente ou fria, ouvindo uma música ou o canto dos pássaros, os olhos param um no outro, o mundo se cala, permitindo apenas que a respiração do outro seja ouvida, como se estivessem hipnotizados vão se aproximando vagarosamente, os lábios se tocam e nada mais pode impedir a manifestação do sentimento há tempo tanto reprimido. A história começou e jamais as coisas serão como antes.
As ligações pela manhã apenas para desejar um bom dia, os sanduíches inventados de última hora, a bagunça na cozinha, o banho de chuva que mais parece coisa de criança, o mesmo filme assistido tantas vezes, a música que virou trilha sonora do casal, as brigas por ciúmes, o pedido de desculpa, as flores oferecidas e recebidas, as piadas sem graça que arrancam gargalhadas, o aperto forte das mãos com os dedos entrelaçados, a lágrima acolhida ao escorrer do rosto, o abraço protetor, o coração a mil hora, algo que parece amor e se for talvez seja pra sempre.
Os dias passam. Em alguns, o sentimento parece fortalecido, em outros, os dois distantes. O tempo vai mostrando melhor um pouco mais do outro, fazendo com que cada um conheça melhor a si mesmo. As diferenças por vezes causam espanto, na maioria os aproximam, descobrindo que tudo é uma questão de adaptação e respeito. Os momentos difíceis testam as promessas, a superação demonstra o poder de estar cada vez mais próximo. Os planos são o primeiro passo de uma longa jornada. A conquista, a consequência de caminhar acreditando que nenhum caminho é tão longo quanto parece. O sonho nunca realizado, se sonhado a dois, terá valido à pena.
Acordar e ver ele sentado na cama só olhando e dizendo que é linda mesmo toda descabelada. Ser abraçada e sentir ele cheirar seu pescoço e elogiar seu perfume mesmo sem estar usando nenhuma fragrância. Ver ele engolir seco de ciúme ao ver um outro homem te olhar mesmo depois de muito tempo juntos. Deitar no chão e ficar olhando as estrelas até assisitr o nascer do sol. Sentir que ele te olha com admiração. Ouvir "eu te amo" no momento mais absurdo. Sentir que é amada incondicionalmente.
O castelo não existe. A madrasta não tem nome. O príncipe encantado só está nos contos de fadas. O sentimento que gera as histórias das princesas deve existir em algum lugar. Viver um grande amor é muito difícil, acredito que muitas pessoas passam pela vida e se vão sem sentí-lo. Pode ser apenas ilusão, mas prefiro acreditar e esperar a hora da minha história ser escrita.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Há algo de desafinado na canção

Era mais um dia em que ela chegava em casa, exausta pelo excesso de trabalho e pelo calor escaldante. Diferente dos demais, nesse final de tarde não cantarolava pela casa nem comentava os acontecimentos da empresa, queria somente seu sempre desejado banho frio e um lugar para encostar a cabeça, que latejava desde cedo.
Há algum tempo queria escrever, mas não conseguia, parece que a inspiração se escondia, causando certa inveja, afinal, era exatamente o que queria fazer, contudo, o máximo que conseguia era ficar ainda mais perdida dentro de si mesma.
Se as letras lhe escapavam, focava então nas notas, porém, iniciava uma canção e não chegava ao final. Parece que não estava se concentrando mesmo. Era melhor só ouvir e ensaiar apenas os ouvidos.
Perguntas sem respostas, olhares não correspondidos, dúvidas e mais dúvidas. Aquela garota independente, detestava a ideia de estar apaixonada. Queria manter o controle de si mesma e se irritava por ver que não podia mais impedir o que há tanto negava. Por mais que tentasse disfarçar, suas mãos trêmulas desobedeciam.
O telefone tocava, ao atender ouvia uma voz que não queria. Olhava ao redor e via tanta gente, alguns disputando sua atenção, menos aquele fazia desandar seu coração.
Não quer chorar. Não quer e não vai. O que adiantaria? As lágrimas não o trariam, nem arrancariam de dentro dela aquele sentimento.
Ela só queria amar alguém que a amasse, então, para que se iludir com alguém que nem a notava?
Ela só queria que ele entendesse que por mais marrenta que pareça, na verdade, carrega dentro de si, uma menina frágil, que espera um abraço e um olhar que somente os seus olhos poderão dar.
Enquanto finge que nada de diferente acontece em seu coração, tem a companhia das melodias e das linhas que ainda consegue escrever.