Insano

A água quente caía na minha nuca,
escorria pelas costas, deslizando sobre a pele,
na tentativa de amenizar o frio da solidão.
O tremor involuntário deixava claro o meu lugar de refém.
Completamente presa à você.
Incapaz de lutar contra a vontade de tê-lo por perto.
Como um dependente em meio à uma crise de abstinência.
Imaginava-me envolvida em seus braços, segura.
Desejava sentir a sua mão percorrendo os meus cabelos,
enquanto me apertava contra o seu peito, levando-me para você.
Fazendo-me sentir totalmente protegida.
Estava só. Como nunca antes.
Precisava de você mais do que nunca.
Com os olhos fechados, já não era possível separar
a água que molhava meu rosto das lágrimas que rolavam copiosamente.
Da mesma forma como não mais consigo separar a razão e a emoção.
Contrariando tudo o que antes defendia. Insano.
Intensificando cada dia mais essa espécie de paixão.

Não é a hora

Eu estava distraída, por isso, não notei que os seus olhos me seguiam por toda parte.
A sua atenção me envolveu a ponto de tornar a sua ausência perturbadora.
Sinto falta de ouvir a sua voz quando atendo o telefone.
Tenho a necessidade de olhar para você ver que mesmo de longe me acompanha.
O meu sorriso sente falta do seu ao notar no rubor da minha face que me deixou sem graça.
Eu bem que tentei manter distância, mas, somos atraídos como imãs, inexplicavelmente.
Sabemos o que sentimos e já não somos capazes de evitar esse desejo,
mas paramos, exatamente aqui, antes que seja tarde.
Nos atrasamos pelo caminho. Ainda há tempo de parar, mas já é tarde para começar.

Te amei

Te amei no primeiro olhar.
Te amei na primeira passagem.
Te amei desde a primeira vez em que neguei.
Te amei todas as vezes em que tentei fugir.
Te amei enquanto as lágrimas rolavam.
Te amei quando a esperança me virou as costas.
Te amei quando foi embora.
Te amei aguardando a sua volta.
Te amei da maneira mais bela que se pode amar alguém.
E te amo ainda mais pela capacidade que tem
de me fazer te amar tanto assim.

Desavisados

Foram tantas negações. Encontros e desencontros.
Nos aproximávamos e, repentinamente, ficávamos distantes,
a ponto de agirmos como dois estranhos desconhecidos.
Inevitavelmente, esbarrávamos um no outro,
sem que nenhum provocasse tal reencontro.
Dois desavisados, atraídos por algo infinitamente maior que ambos.
É como se as nossas vidas estivessem ligadas involuntariamente.
Embora nunca tenha falado, seus olhos tímidos ao encarar os meus,
revelam algo tão forte quanto o que existe dentro de mim.
No fundo, quer tanto quanto eu, mas teme, ainda mais do que eu.