"Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine."
(I Coríntios 13.1)


quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Uma história. Uma vida!

As malas já estavam quase prontas. As professoras e amiguinhas já sabiam. A alegria era evidente, impossível disfarçar. A única coisa que destoava eram os ponteiros do relógio que não andavam na mesma velocidade das batidas do coração. Tudo já estava programado em sua inocente imaginação, o momento do encontro, o primeiro olhar, o abraço. Tudo perfeito. Mas uma pergunta, uma simples pergunta, transformaria os raios de sol em terríveis agulhas que paralisariam seu mundo.
A pequena sempre ouviu dizer que ele estava longe, pois, trabalhava demais. Era um homem formado numa instituição de nível superior, inteligente e muito ocupado. Durante anos esteve na cidade de Fortaleza, um dos cartões postais do país, envolvido em assuntos profissionais, por isso, a ausência.
No dia em que viu as passagens compradas não se conteve, contou a todos e feliz afirmou que enfim a hora do tão esperado colo era chegada. Só não imaginava que essa seria também a hora da verdade.
De maneira sutil, ouviu que ele não mais estaria lá e que deveria se contentar com a companhia dos primos e padrinos. Outra vez culpa do trabalho. Teria sido enviado à outra região. Como explicar à uma criança de cinco anos uma realidade que nem adultos conseguem se conformar? A história deveria ser sustentada até que pudesse ao menos juntar o quebra-cabeça.
Anos se passaram e com eles ilusões se perderam, mas ainda restava um fio de esperança, que a mantinha numa pequena expectativa.
Aos quinze anos de idade, meados de junho de 2000, aquele mesmo fio lhe trouxe um número de telefone. Já ciente de sua história, pegou o aparelho. Desligou algumas vezes, com medo do resultado daquela atitude. Mas não podia parar, esperou muito por aquilo.
Uma voz infantil respondeu aos toques, em seguida uma mulher tomou a frente e insistiu em saber o motivo da ligação. Sua insistência não venceu a daquela jovem que continuava a pronunciar o nome dele. Conseguiu. Uma voz grave e rude provocou segundos de silêncio, até que conseguisse retomar coragem e prosseguir com seu objetivo.
Ela não queria nada além de um encontro. Não pediu uma palavra, uma explicação, um toque, nada, apenas um olhar que nem precisava ser correspondido, só queria o direito de por alguns segundos ver aquele a quem era tão comparada fisicamente, depois nunca mais o procuraria.
"Hoje estou casado, tenho dois filhos e não pretendo mudar isso. Desligue o telefone e siga sua vida como fez até hoje, sem mim. Afinal, se passou quinze anos querendo saber quem sou eu, foi em vão, pois, você quer saber, mas eu não tenho a menor vontade de saber quem é você.".
Algo impediu que a resposta saísse, não sabe ao certo o que, mas sentiu o coração parar por um tempo indeterminado. A voz travou na garganta e os dentes cerrados eram uma tentaiva de impedir que as lágrimas rolassem. Funcionou até desligar o telefone, mas não durou muito. Ao olhar para aquela que sempre esteve ao seu lado, não resistiu ao ver que a dor dela era maior que a sua.
Mágoa, raiva, orgulho, sentimentos se misturavam até se unirem representando o pior de todos: indiferença. Ela percebeu que ele não representava absolutamente nada de significante em sua vida. Não passava de um desconhecido que não era digno nem de pena.
As feridas foram cicatrizando com o tempo e os momentos de fraqueza expulsos ao ver que tinha alguém que a amava incondicionalmente, alguém que foi humilhada, mas jamais perdeu o brilho nos olhos. Esse mesmo alguém a faz sentir todos os dias que é especial, capaz de romper barreiras impostas pela vida e por si mesma.
E essa história não acabou. O mundo é pequeno, repleto de surpresas. Inevitavelmente, um dia eles se esbarram pelo caminho e o olhar recusado acontecerá. E aquela menina, hoje mulher, certamente, não pagará na mesma moeda.

Um comentário:

  1. Nossa... Lembro do ano passado, quando me disse que não "sabia" escrever. Não lembro bem se foi esse termo, mas de qualquer forma é mentira. Conheço o lado não-lírico dessa história.
    Enfim.. Ficou bom o texto. Se essa era a intensão ou não.

    \o/ Agora vc tem blog!!!

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