"Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que tine."
(I Coríntios 13.1)


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Um motivo

Nem mesmo a pressão forte das mãos sobre o rosto pôde impedir
que as lágrimas escorressem por entre os dedos. Na medida em que
tentava segurar, maior ficava o nó na garganta. Estava prestes à sufocar.
O coração disparava e a cada segundo o ar ficava mais escasso.
É como se as mãos que escondiam meu rosto pudessem me esconder do mundo inteiro.
Não adiantava falar nada. Precisava fica sozinha, comigo mesma.
Busquei tantas respostas, tantas razões. Acabei perdida dentro de mim.
Só queria encontrar algo mais forte, um motivo para continuar acreditando.
Estava difícil demais. Abria os olhos, mas tudo o que via eram vultos.
Uma realidade distante demais do que desejava naquele momento.
As vozes chegavam a mim distorcidas. Talvez não quisesse ouvir mais nada.
Eu precisava de um tempo, mesmo sem querer esperar um único segundo.
Casada de conselhos e opiniões, precisava de algo concreto, palpável.
Minhas forças estavam no limite. Meu coração não suportava mais a dor.
Precisava de um motivo para não sumir,para não largar tudo, mas parece
que o ele me abandonou em meio ao turbilhão de sentimentos.
Tudo? Tudo o que? Não encontrei absolutamente nada. Ninguém.
Estava absolutamente só. Não encontrava ao meu lado quem eu mais queria.
Amor. O que é isso? Ele existe? Quantas perguntas sem resposta.
Não era uma decepção. Era apenas o vazio deixado pela inércia.
Saí. Pela última vez ouvi alguém que me disse: “Persevere. Não desista.
Até o menor sinal é um motivo para continuar. Não desista.”.
Eu estava muito fraca para falar. Chorava copiosamente e no mais profundo do meu íntimo
gritei por socorro. Um grito silencioso. Em meio a sussurros clamei:
“Senhor, olha para mim.”.
Com o rosto molhado, senti algo que me tranquilizou.
Não, eu não estava sozinha. O sentimento que parecia adormecido, despertou.
A chama outra vez se acendeu. Quero sentir, quero amar, quero viver.


“As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido.”
(Fernado Pessoa)

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